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Liberta-me de tudo




Solta-te
Liberta-me de tudo
E deixa-me vazio...
Um recipiente abandonado
Numa estrada por onde a guerra já passou

Solta-te
Deixa-te ir num fluir que já não há
Ser talvez o que já não podes ser
E acontecer-te nunca e sempre
Numa espera que não alcança

O que faço aqui, a olhar para ti?
Foi sempre assim?

Percorri tantas vezes o caminho mais difícil para te encontrar
Escondi-me tantas vezes, fugi...!

Para quê?
Porquê?

Talvez, na sombra, entenda melhor o efeito da luz sobre os corpos
Talvez, ao relento, com o vento a massajar-me o pensamento
Encontre o inevitável fascínio
De uma montanha em aguarela colorida
E a tua figura como medida
Da excitação fulgurante e febril...
Do teu sorriso sublime.


Mas, porquê?
Porquê, gostar assim de ti?

Solta-me, pensamento cruel!
Liberta-me de tudo!
Deixa de existir em mim!



Pedro Barão de Campos.


Deslumbre





Deslumbre
Em ti, sublime
Afasto-me ao aproximar-te de mim

A cada cortina de vento
O esboço ondulante do teu cabelo
Contornos de tudo
E a paisagem do mundo
É o que encontro em ti


Na boca invento uma janela
Nos olhos, a doçura selvagem do teu sentir
A pele é a fronteira
De um universo inteiro
Por descobrir


E as mãos
Sempre as tuas mãos
Divagantes, voadoras, agitando a alegria pelo ar vazio
Como asas
Como melodia
De um som
Impossível para mim...

Pedro Barão de Campos.

Pedra




Palavras... gestos... olhares...
O que é isto de pensar? O que é isto de sentir?
Que coisa é esta que persiste a tudo e não cessa...?
Esta doença crónica que é ter sempre pensamentos sobre as coisas...
Que é sempre sentir algo...

Porquê?
Porque não sou apenas como a árvore do bosque?
Imóvel, plácida, sublime... viva...

Ou talvez, uma pedra
Porque não nasci pedra?
Hoje, penso que, se fosse uma pedra, seria mais feliz.

Estaria tranquilo, seria resistente
E como as pedras não estão vivas
Nunca teria de me confrontar com dilemas e pensamentos
Nunca teria de enfrentar a morte ou a solidão

Porque simplesmente as pedras são aquilo que são
São pedras, apenas pedras... duras, imóveis, frias...
Pedras... só pedras... que não filosofam, nem imaginam, nem supõem!

Pedra, é o que eu deveria ser.


Pedro Barão de Campos